Chego do serviço, minha mãe próxima aos 90 anos de idade,
conta que dois rapazes, que ela acreditava gente do governo, vieram entrevistá-la,
pois era a funcionária mais antiga do hospital psiquiátrico do Juqueri que
haviam encontrado ainda viva.
Não sei se eram do governo, se eram estudantes ou
jornalistas. Não sei.
Minha mãe me fala, bem baixinho, com um sorriso malandro nos
lábios:
- Só contei as coisas boas. Não falei nada das coisas ruins,
pois eu não sei quem é essa gente e o que eles podem aprontar.
Com seus quase 90 anos e ainda temerosa de consequências
ruins por parte do governo. Resultado das perseguições políticas sofridas, por
ela e meu pai, enquanto funcionários do estado. Pré e pós-ditadura.
Fico pensando no poema Kaddish, do Allen Ginsberg. Sua mãe,
comunista, transtornada, morrendo e achando que Hitler iria matá-la.
Fico pensando sobre aquilo que fazem com a gente.
fico pensando se não é outra coisa, diferente de mim, o que é gente.
ResponderExcluirIsso, Drigão, por aí...
Excluir