terça-feira, 13 de dezembro de 2016

ESPIONAGEM

Começo dos anos de 1980, trabalhando na prefeitura de Caieiras, entrou um rapaz bem mais novo que eu pra trabalhar em nosso departamento. Ivo foi, e ainda é, uma das pessoas mais honestas que conheci. De uma simplicidade tão autêntica que ainda me emociono das suas e nossas diversas histórias.

O chefe do departamento era um sujeito medíocre que, embora não fosse um grande amigo, tinha certa aproximação comigo desde a infância. Logo após esse fato que vou relatar perdemos essa aproximação.

Havia uma questão que preocupava o chefinho: o Ivo era filho de um vereador. Em sua tresloucada mesquinharia achou que o pai havia “plantado” o filho ali no departamento para tomar o seu tão precioso cargo. Cargo mantido pela relação de servidão bovina a qualquer superior.

Sentindo-se ameaçado começou a articular junto aos seus pares uma forma de prejudicar o garoto.

Como tínhamos amigos em todos os departamentos da prefeitura e por sua pouca habilidade como articulador, ficamos sabendo de suas maquinações.

Conversei com o Ivo e expliquei que tinha um plano pra acabar com aquilo. Combinamos que no dia seguinte, a um sinal meu, ele me deixaria a sós com o famigerado chefinho, pois eu o queria totalmente desarmado.

No outro dia levei um gravador, aquele tipo tijolão, e coloquei na gaveta da minha mesa. Assim que o “cargo ameaçado” chegou dei um toque para o Ivo sair.

Coloquei o bicho pra a gravar e no meio de um papo descontraído com o chefinho comecei a insinuar, bem de leve, maledicências contra o prefeito e vereadores. Não deu outra: o sujeito desandou a meter o pau no mandatário, a ofender vereadores, outros chefes e diretores. Era a indignação contra o poder público em pessoa.

Tendo conseguido o que queria, chamei o Ivo, tirei o gravador da gaveta e coloquei pra rodar a gravação. O cara, covarde como era, ficou pálido, gaguejando e tremendo. Nem ódio conseguiu sentir naquele momento.

Disse a ele que sabia das suas manipulações pra tentar prejudicar o Ivo, e que se ele fosse prejudicado de alguma maneira aquela fita iria parar nas mãos do prefeito. Nunca mais se meteu a besta.


Eu e o Ivo trabalhamos ainda um bom tempo juntos. Acabou saindo da prefeitura um pouco antes da minha saída. Sei que está bem, mas eu o vejo raramente.

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