Muito tempo atrás o tênis de mesa se dividia em dois grandes
estilos: o sul americano e o oriental. Hoje prevalece de forma absoluta o
estilo oriental com japoneses, chineses e coreanos dominando o cenário do
esporte.
Os orientais jogam mais colados à mesa. É um jogo rápido
agressivo, com a bolinha impulsionada pelas raquetes de nylon. Quase mecânico. O
estilo sul americano era plasticamente mais bonito. Jogava-se mais distante da
mesa, a raquete de madeira imprimia sua agressividade através dos efeitos sobre
a bolinha.
Não sei determinar exatamente o período que abrangeu a
atividade de meu pai como jogador de tênis de mesa, mas durante essa época foi
considerado um dos três melhores jogadores do Brasil. Meu pai contava,
confirmado por seus irmãos e amigos, que Biriba, então o grande nome do tênis
de mesa nacional, fez um desafio através de uma emissora de rádio. Sabendo do
desafio meu pai respondeu que aceitava, desde que fosse em campo neutro. Biriba
se recusou, pois só jogava dentro de casa, ou seja, no seu espaço. Nunca houve
esse embate.
Era compreensível essa preocupação do meu pai, e tantos
outros jogadores, com o campo neutro. Minha mãe, que o acompanhava nessas
partidas, conta que eram situações de grande tensão, que invariavelmente
terminavam em brigas. Jogar no campo do adversário era algo temeroso. A torcida
da casa literalmente cercava o visitante, limitando seu espaço de atuação, além
das provocações. Lembre-se, o estilo sul americano precisa de um grande espaço
em torno da mesa. Consequência: porrada!
Embora um grande atleta, meu pai era um boêmio, cachaceiro e
briguento. Irascível. Quando no exército, onde passou mais tempo na cadeia por
brigas e desobediência, foi convocado pelo coronel Padilha, esse mesmo
famigerado militar, até tempo atrás ligado ao comitê olímpico, para defender o
Brasil nas olimpíadas como lutador de boxe. Meu pai recusou o “convite”, o que,
provavelmente, lhe custou um acréscimo atrás das grades. Diziam que meu pai
tinha um murro demolidor.
Quando adolescente, eu olhava com orgulho aquele certificado
militar “sujo” de carimbos, que o desabonava como soldado. Pelas prisões acabou
cumprindo muito mais tempo além daquele que devia como convocado.
Some-se tudo isso a uma partida de tênis em campo
adversário. Era o desespero de minha mãe, mulher extremamente forte, tendo que
se engalfinhar com marmanjos, para tirar meu pai de situações onde
numericamente era desvantajoso. Garrafas voavam.
Meu pai abandonou o tênis de mesa quando começou a
prevalecer o estilo oriental. Ele nunca gostou dessa maneira de jogar e nem
tentou se adaptar. Mais velho e já sossegado, foi ganhar troféus e medalhas
como jogador de bocha.
Como meu pai, também sempre gostei mais do estilo sul
americano de jogar, mas, devo admitir que com os orientais tudo ficou muito
mais zen.
Que inusitado um Pai jogador de tênis de mesa. Aah essa vida e um barato!
ResponderExcluirRs rs rs rs rs...
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