sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

ZEN OU A ARTE DE JOGAR TÊNIS DE MESA

Muito tempo atrás o tênis de mesa se dividia em dois grandes estilos: o sul americano e o oriental. Hoje prevalece de forma absoluta o estilo oriental com japoneses, chineses e coreanos dominando o cenário do esporte.

Os orientais jogam mais colados à mesa. É um jogo rápido agressivo, com a bolinha impulsionada pelas raquetes de nylon. Quase mecânico. O estilo sul americano era plasticamente mais bonito. Jogava-se mais distante da mesa, a raquete de madeira imprimia sua agressividade através dos efeitos sobre a bolinha.

Não sei determinar exatamente o período que abrangeu a atividade de meu pai como jogador de tênis de mesa, mas durante essa época foi considerado um dos três melhores jogadores do Brasil. Meu pai contava, confirmado por seus irmãos e amigos, que Biriba, então o grande nome do tênis de mesa nacional, fez um desafio através de uma emissora de rádio. Sabendo do desafio meu pai respondeu que aceitava, desde que fosse em campo neutro. Biriba se recusou, pois só jogava dentro de casa, ou seja, no seu espaço. Nunca houve esse embate.

Era compreensível essa preocupação do meu pai, e tantos outros jogadores, com o campo neutro. Minha mãe, que o acompanhava nessas partidas, conta que eram situações de grande tensão, que invariavelmente terminavam em brigas. Jogar no campo do adversário era algo temeroso. A torcida da casa literalmente cercava o visitante, limitando seu espaço de atuação, além das provocações. Lembre-se, o estilo sul americano precisa de um grande espaço em torno da mesa. Consequência: porrada!

Embora um grande atleta, meu pai era um boêmio, cachaceiro e briguento. Irascível. Quando no exército, onde passou mais tempo na cadeia por brigas e desobediência, foi convocado pelo coronel Padilha, esse mesmo famigerado militar, até tempo atrás ligado ao comitê olímpico, para defender o Brasil nas olimpíadas como lutador de boxe. Meu pai recusou o “convite”, o que, provavelmente, lhe custou um acréscimo atrás das grades. Diziam que meu pai tinha um murro demolidor.

Quando adolescente, eu olhava com orgulho aquele certificado militar “sujo” de carimbos, que o desabonava como soldado. Pelas prisões acabou cumprindo muito mais tempo além daquele que devia como convocado.


Some-se tudo isso a uma partida de tênis em campo adversário. Era o desespero de minha mãe, mulher extremamente forte, tendo que se engalfinhar com marmanjos, para tirar meu pai de situações onde numericamente era desvantajoso. Garrafas voavam.

Meu pai abandonou o tênis de mesa quando começou a prevalecer o estilo oriental. Ele nunca gostou dessa maneira de jogar e nem tentou se adaptar. Mais velho e já sossegado, foi ganhar troféus e medalhas como jogador de bocha.

Como meu pai, também sempre gostei mais do estilo sul americano de jogar, mas, devo admitir que com os orientais tudo ficou muito mais zen.

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