Du e Di eram gêmeos. O Du era mais moreno, magro e alto. O
Di era bem loiro, baixo e mais robusto. O que tinham em comum era o cabelo
espetado.
Eu os conhecia desde a mais tenra infância, pois eram nossos
vizinhos. Nunca desenvolvemos uma grande amizade, mas nos dávamos bem.
Estudamos e jogamos bola juntos, trocávamos gibi e brincadeiras coletivas de
moleque.
O Du sempre encontrei por aí. Ele trabalhava no centro de
Caieiras e sempre nos trombando, nos cumprimentando e breves conversas de como
você vai e comigo tudo bem. O Di nunca mais vi. Muitos anos sem vê-lo e não
havia me apercebido disso.
Um dia acabei lembrando-me da ausência do Di. Falei com uma
pessoa muito conhecida da família dele, que me informou que ele havia morrido
há alguns anos. Fiquei chateado, pois justificava sua ausência, mas não minha
desatenção.
Tempos atrás, andando na Rua João Dártora, escuto alguém me
chamar do outro lado da rua, em um ponto de ônibus cheio de gente. Demoro um
pouco pra identificar a pessoa no meio da pequena “multidão”. Para minha
surpresa vejo o Di. Surpresa por achar vivo quem eu já achava morto.
Assim sem entender muito a situação, pois é difícil
desacomodar nossos mortos que ressurgem, atravessei a rua para cumprimentá-lo.
Apertamos nossas mãos, depois um abraço. Sim, ele estava vivo.
Repentinamente o Di se ajoelha diante de mim, pega minhas
mãos e começa a beijá-las. Com a voz embargada de um quase choro, ficava
repetindo:
- Obrigado, Rubinho. Obrigado. Você veio falar comigo. Ninguém
fala comigo. Todo mundo foge de mim.
Meu mundo caiu naquele instante. Mais desamparado que ver um
ex-morto. As pessoas ali presentes não menos espantadas que eu pela cena.
Parece que o mundo silencia nesses momentos. Totalmente constrangido, me lembro
de que tentava levantá-lo, só conseguindo dizer:
- Cara, para com isso! Por favor, para com isso!
Acho que trocamos mais algumas palavras e um último abraço
antes que seu ônibus chegasse.
Esse é um mal-estar que carrego até hoje comigo. Sem nunca
ter sabido o que ocorreu durante o tempo em que esteve “morto”, fico me
perguntando o quanto o mataram nesse tempo. O quanto ele se matou.
Depois disso nunca mais vi o Di. Talvez seu destino seja
permanecer morto.
Ah essas histórias cheias vida. Um grande livro de contos e mais que ele há aqui neste espaço!
ResponderExcluirPois é, Drigão, tem cada uma que acaba com a gente.
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