Aquele dia, após o expediente, eu fui beber com os amigos e
colegas de trabalho. Era no bairro da Lapa, em Sampa, já tarde corri para pegar
o último trem rumo a Caieiras.
Fiquei esperando na plataforma, totalmente vazia, e logo
depois, próximo a mim chegou uma mulher, por volta de 30 ou 35 anos, talvez 40,
vestida com muita simplicidade. Bolsa, sacola e cabisbaixa. Não sei, talvez
fosse uma operária ou empregada doméstica saindo em hora tardia do serviço.
Entramos no vagão pela mesma porta. O trem não estava
totalmente lotado, embora todos os bancos estivessem ocupados. A mulher encostou-se
na porta oposta à qual entramos e eu fiquei em pé mais ou menos de frente pra
ela.
Assim que o trem entrou em movimento, um sujeito levanta do
banco e começa a importunar a mulher. Fica tentando abraçá-la, dizendo coisas
que não eu conseguia entender, mas podia imaginar.
Meu velho espírito paladino fez o sangue ferver. Fui pra
cima do rapaz, meti a mão em seu ombro e o puxei de frente para mim.
- Para com isso, meu! Ela é minha amiga e você está
incomodando. Essa hora o vagão inteiro já estava olhando pra cena.
- E se eu não parar o que vai acontecer? Perguntou-me entre
valentão e surpreso. Foi aí que percebi
que o cara estava meio embriagado.
- Encosta nela de novo ou fale qualquer outra bobagem e você
vai ver o que vai te acontecer. Respondi enfiando o dedo na cara dele.
Repeti coisas desse tipo mais umas vezes e o sujeito
desmontou. Ficou me olhando com aquela cara miserável de bêbado, sem saber o
que fazer e, provavelmente, com medo. Acabou se afastando da mulher.
A única pessoa, em todo o vagão, que se manifestou foi um
senhor muito idoso que veio me dizer que se eu não tivesse tomado aquela
atitude, ele teria tomado.
A mulher acabou sentando, mais cabisbaixa ainda, em um banco
que vagou. Mas quando você enfia o pé na merda, o fedor vai te acompanhar, pois
a história não termina aí.
O trem já a caminho de Perus, o sujeito vem meio cambaleando
pro meu lado e começa a conversar.
- Pô, meu, eu gostei de você. Você é um cara legal. Eu vou
descer em Francisco Morato e você vai comigo tomar umas cervejas.
Eu, de saco cheio, fui escutando aquela ladainha até o trem
parar em Perus.
- Aqui é Francisco Morato? Me perguntou.
- É, pode descer! Respondi na maior sacanagem.
Ele desceu em Perus e nem deu tempo de reafirmar seu convite
para a cerveja. O trem fechou as portas e foi em direção à estação de Francisco
Morato.
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