quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

ANDANDO NA LINHA 01

Aquele dia, após o expediente, eu fui beber com os amigos e colegas de trabalho. Era no bairro da Lapa, em Sampa, já tarde corri para pegar o último trem rumo a Caieiras.

Fiquei esperando na plataforma, totalmente vazia, e logo depois, próximo a mim chegou uma mulher, por volta de 30 ou 35 anos, talvez 40, vestida com muita simplicidade. Bolsa, sacola e cabisbaixa. Não sei, talvez fosse uma operária ou empregada doméstica saindo em hora tardia do serviço.

Entramos no vagão pela mesma porta. O trem não estava totalmente lotado, embora todos os bancos estivessem ocupados. A mulher encostou-se na porta oposta à qual entramos e eu fiquei em pé mais ou menos de frente pra ela.

Assim que o trem entrou em movimento, um sujeito levanta do banco e começa a importunar a mulher. Fica tentando abraçá-la, dizendo coisas que não eu conseguia entender, mas podia imaginar.

Meu velho espírito paladino fez o sangue ferver. Fui pra cima do rapaz, meti a mão em seu ombro e o puxei de frente para mim.

- Para com isso, meu! Ela é minha amiga e você está incomodando. Essa hora o vagão inteiro já estava olhando pra cena.

- E se eu não parar o que vai acontecer? Perguntou-me entre valentão e surpreso.  Foi aí que percebi que o cara estava meio embriagado.

- Encosta nela de novo ou fale qualquer outra bobagem e você vai ver o que vai te acontecer. Respondi enfiando o dedo na cara dele.

Repeti coisas desse tipo mais umas vezes e o sujeito desmontou. Ficou me olhando com aquela cara miserável de bêbado, sem saber o que fazer e, provavelmente, com medo. Acabou se afastando da mulher.

A única pessoa, em todo o vagão, que se manifestou foi um senhor muito idoso que veio me dizer que se eu não tivesse tomado aquela atitude, ele teria tomado.

A mulher acabou sentando, mais cabisbaixa ainda, em um banco que vagou. Mas quando você enfia o pé na merda, o fedor vai te acompanhar, pois a história não termina aí.

O trem já a caminho de Perus, o sujeito vem meio cambaleando pro meu lado e começa a conversar.

- Pô, meu, eu gostei de você. Você é um cara legal. Eu vou descer em Francisco Morato e você vai comigo tomar umas cervejas.

Eu, de saco cheio, fui escutando aquela ladainha até o trem parar em Perus.

- Aqui é Francisco Morato?  Me perguntou.

- É, pode descer! Respondi na maior sacanagem.


Ele desceu em Perus e nem deu tempo de reafirmar seu convite para a cerveja. O trem fechou as portas e foi em direção à estação de Francisco Morato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário