sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

PENSANDO EM JÔ

Pra Jô, com carinho.



Naquele tempo não tinha redes sociais, apenas salas de bate-papo. Havia um grupo de amigos com os quais sempre conversava em uma dessas salas, previamente combinada. Lá de vez em quando rolava alguma baixaria ou sacanagem, mas no geral eram todos conhecidos e ficava razoavelmente fácil driblar isso.

Determinado dia circulando pelas salas vejo, nas conversas, uma pessoa sendo agredida por outras duas. Argumentavam dizendo que essa pessoa era um travesti tentando se passar por mulher e partiram para ofensas e achincalhamentos.

Claro, lá vou eu me meter. Não me lembro bem o que disse, mas dei uma dura naquelas pessoas. Acho que falei sobre respeito, independente da questão de gênero. Algo assim.

Os dois imbecis saíram rapidinho da sala e fiquei conversando com a pessoa que estavam agredindo. Ela me contou sobre como havia começado a confusão, que de fato era uma mulher e agradeceu minha intervenção. Ao nos despedirmos passei-lhe meu e-mail e ela recusou-se a passar o dela.

Um ou dois dias depois, olhando minha caixa de e-mails e vejo um de alguém desconhecido. Era ela. Explicava quem era, reafirmando o agradecimento, e anexando algumas fotos, dizendo que era para provar que era realmente uma mulher. E que mulher!

Jô, como passei a chamá-la, encurtando seu nome, era (ainda é) uma linda mulher, formada em jornalismo e morava no interior do estado.

Trocamos mensagens durante muito tempo e muitas conversas em salas de bate-papo. Escolhíamos salas pouco ou nada frequentadas para que tivéssemos sossego. Depois disso passamos a nos falar constantemente ao telefone. Tínhamos uma relação muita viva por esses meios de comunicação, mas todo interesse já despertado ainda esbarrava na distância.

Tempos depois ela me diz que vinha para São Paulo, onde passaria uns dias vendo questões relativas à sua saúde. Seria a oportunidade de nos conhecermos pessoalmente. Não me recordo por quais razões, mas só consegui encontrá-la no terminal rodoviário do Tietê, momentos antes dela embarcar de volta para o interior.

Ainda assim conseguimos conversar bastante. Ela confirmava tudo aquilo que as fotos mostravam. Além de muito bonita, era inteligente, culta, elegante e cativante. Acho que ali nos encantamos.

Quando retornou à São Paulo estava acontecendo uma feira de cosméticos, com a participação da empresa onde eu trabalhava, e convidei-a para ir comigo. Circulamos um tempo pela feira e depois fomos até o Café Aurora, no Bixiga, com um casal de amigos meus.

Ali, sentados, ela me deu o primeiro beijo. Um dos beijos mais estonteantes que recebi. Compensou infinitamente a recusa, por parte dela, em minha primeira tentativa de beijá-la, um pouco antes de entrarmos na feira que, confesso, havia me deixado meio arisco.

Depois disso passei a ir pra sua cidade no interior, conheci seus filhos e família. Ela passou a vir pra Caieiras e algumas vezes íamos para sua casa em Campos do Jordão. Vivemos um romance profundo e pleno. Algum tempo depois ela mudou-se definitivamente para São Paulo.

Por outro lado, tínhamos brigas homéricas. Os motivos? Não sei, talvez bobagens. Em aproximadamente dois anos de namoro tivemos não sei quantos rompimentos e voltas. Mas como ela sempre dizia:

- Ru, nós somos fogo e palha, basta que nos encostemos que entramos em combustão. E assim era.

A Jô foi muito importante para meu amadurecimento enquanto homem e uma das melhores pessoas que conheci. Rompemos, acredito que sem mágoas de ambas as partes. Mantemos uma amizade sólida, embora não nos falemos com tanta frequência. Nessas poucas conversas explicitamos nosso carinho e respeito profundos, um pelo outro.


Quero reencontrá-la para um abraço que sempre carrego comigo.

2 comentários:

  1. poxa! "quero reencontra-la para um abraço que sempre carrego comigo." e todo o resto... ai!

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    1. A Jô é uma das melhores pessoas que conheci, Drigão. Gostaria de ter feito um texto que lhe fizesse realmente justiça.

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