Contava minha mãe que, quando criança, morava próximo ao
sítio de meu avô, um homem portador de hanseníase, que também já foi conhecida
pelo termo pejorativo de lepra. Ela nunca se aprofundou na história desse
homem, portanto, além daquilo que segue, nada mais sei a respeito.
Dizia que principalmente as crianças tinham medo dele,
provavelmente pelas deformidades, ou incapacidades físicas, que a doença causa.
Mas o agravante, ainda no possível imaginário de minha mãe criança, era o fato
do portador do mal de Lázaro ser considerado uma pessoa má, que costumava esfregar
alimentos em suas feridas e oferecer aos meninos e meninas na intenção de
infeccioná-los. É possível? Sim, ainda que não tenha nada que fundamente essa
possibilidade, acredito que sim. Mas prefiro centrar minhas deduções no
preconceito arraigado que sempre esteve ligado à doença. Presumo que eram
histórias contadas por adultos com a intenção de causar pavor e manter suas
crianças, já contaminadas pelo preconceito, afastadas do homem doente.
Na estante da memorabilia empoeirada, doente de poesia, o portador de palavras ainda padece do preconceito in-verso. Deformado pelo eterno construir, ao contrário da hanseníase, o poeta não tem cura.
A necessidade de se gastar com estes caracteres... É apenas algo a mais de incompreensível num mar de não saber. Mas saber por que escrevemos, penso, importa ainda menos que escrever. Escrever é tempo gasto com registro de objetos e sujeitos vários. Coisa que se faz desde as cavernas.
ResponderExcluirContinuamos primatas com um mouse da incompreensão nas mãos.
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