quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

DAS DEFORMIDADES

Contava minha mãe que, quando criança, morava próximo ao sítio de meu avô, um homem portador de hanseníase, que também já foi conhecida pelo termo pejorativo de lepra. Ela nunca se aprofundou na história desse homem, portanto, além daquilo que segue, nada mais sei a respeito.

Dizia que principalmente as crianças tinham medo dele, provavelmente pelas deformidades, ou incapacidades físicas, que a doença causa. Mas o agravante, ainda no possível imaginário de minha mãe criança, era o fato do portador do mal de Lázaro ser considerado uma pessoa má, que costumava esfregar alimentos em suas feridas e oferecer aos meninos e meninas na intenção de infeccioná-los. É possível? Sim, ainda que não tenha nada que fundamente essa possibilidade, acredito que sim. Mas prefiro centrar minhas deduções no preconceito arraigado que sempre esteve ligado à doença. Presumo que eram histórias contadas por adultos com a intenção de causar pavor e manter suas crianças, já contaminadas pelo preconceito, afastadas do homem doente.


Na estante da memorabilia empoeirada, doente de poesia, o portador de palavras ainda padece do preconceito in-verso. Deformado pelo eterno construir, ao contrário da hanseníase, o poeta não tem cura.

2 comentários:

  1. A necessidade de se gastar com estes caracteres... É apenas algo a mais de incompreensível num mar de não saber. Mas saber por que escrevemos, penso, importa ainda menos que escrever. Escrever é tempo gasto com registro de objetos e sujeitos vários. Coisa que se faz desde as cavernas.

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  2. Continuamos primatas com um mouse da incompreensão nas mãos.

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