segunda-feira, 27 de março de 2017

HISTÓRIAS LÚDICAS PARA CRIANÇAS ABANDONADAS

Tem dias que não sei o que se passa. Só abrindo um Aleister Crowley ou o Livro Negro de São Cipriano.
Sexta-feira, durante a noite, recebo a visita de uma casal de amigos, de quem gosto muito, e uma amiga, da qual gosto muito também. Íamos sair, mas resolvemos ficar aqui em casa, nos entupindo de cerveja. Com a cerveja, ou sob os efeitos dos componentes geneticamente modificados, todas as nossas histórias bizarras foram surgindo. Fomos desfilando histórias, das situações mais ridículas até as mais escabrosas. Algumas vividas em conjunto, outras em atuação solo. Muita risada. Tanta risada que, muitas vezes, me espanto de ainda haver alegria no mundo. Mesmo com cerveja.
Determinada hora o casal resolve ir embora, pois ele iria trabalhar no sábado que já estávamos nele. A amiga resolve ficar.
Aí eu não sei se foi meu cérebro convertido em transgênico ou sua parcela lesada por décadas de mau uso, meu mundo caiu! Passei toda madrugada, até o horário do almoço, ouvindo histórias que cogumelo, ou ácido, algum jamais ousaria me proporcionar.
Imagine três Exus, vestidos de preto, aos pés da sua cama. O do meio, com a parte interna da capa em vermelho, sem rosto. O cenário é um quarto pequeno e cheio de bolor. Então, repentinamente, o Anjo Gabriel invade o local, destruindo tudo com as enormes asas brancas. Sim, ele de branco e resplandecente. Também derrota os Exus e traz a paz para o quarto todo destruído.
Em seguida, explicando sua conexão profunda, no dia da morte do Raul Seixas, sem que soubesse do fato, ela, de alguma forma inexplicável, cochichou ao ouvido dele que seria a responsável pela continuidade e divulgação da sua obra. Ela viu Raul chorar. Ele apanhou uma lágrima e depositou nas mãos de uma amiga dela, que foi junto nessa aventura espiritual.
Sim, ela esteve com os Hare Krishna. Foi proibida de cantar os mantras, pois não tinha a vocalização correta. Deram a ela cymbals para que tocasse. Quando começou a tocar, uma enorme pomba branca ficou voando sobre sua cabeça, resplandecente. Em um outro dia os devotos alaranjados foram até sua casa e, em determinado momento, resolveram dar um banho, no chuveiro, na imagem de Krishna. Depois, já de banho tomado, levaram até o centro da sala, onde miraculosamente mudou os tons pastel para um colorido vivo, emitindo luzes. Óbvio, resplandecentes.
De histórias e luzes resplandecentes em resplandecentes luzes e histórias, fiquei ali calmamente ouvindo, meio atordoado, talvez ainda meio chapado, fazendo um cafuné em sua cabeça. De repente, não mais que de repente, ela se agita toda.
- O que foi? Perguntei intrigado.
- Tive um orgasmo!
- Cósmico? Perguntei, ainda intrigado.
- É... Acho que sim!
Depois disso, ainda queria me levar pra fazer uma operação espiritual na minha querida hérnia de disco. Ah, tive que botar o pé no chão e ficar consciente de que tem um governo golpista a ser combatido e derrubado e, por fim, a derrocada de todos os governos.
Hasta la victoria. Siempre!

DAS INTENÇÕES

- Desculpe-me, foi sem querer!

Quantas vezes, contraditoriamente, proferi essa frase em relação a alguém. Contraditório, pois sempre deixava as pessoas muito irritadas comigo, quando se dirigiam a mim dessa forma, após alguma ação que entendiam me incomodar.

- Não desculpo. "Sem querer" eu não desculpo. Só desculpo, ou não, se houver um propósito. Sem propósito, é imperdoável.

DE POETAS, FOTÓGRAFOS E REVOLTADOS

Parece que hoje foi o dia da poesia, ou do poeta, sei lá. Passou praticamente desapercebido, o que é muito bom.
Anos atrás foi uma epidemia de poetas. Qualquer lugar onde seus olhos queriam descansar surgia um poeta. Ser poeta, assim como ser artista, é uma coisa que passa.
Mas nem tudo melhorou com o fim dos poetas em pencas. Com a popularização das câmeras digitais, eis que somos soterrados pela avalanche de fotógrafos. O mundo coloriu de finais de semana puerís. Quase supliquei pela volta dos poetas, vê se pode!
Assim como os poetas, os fotógrafos de álbuns de películas transparentes também sumiram.
Hoje posso ver bons poetas e bons fotógrafos sossegadamente, sem o bombardeio de ocasião.
Com isso na cabeça, fiquei me perguntando sobre esse momento. Afinal, onde estão todos aqueles poetas e fotógrafos? Depois de dar uma olhada em minha timeline, não foi difícil descobrir:
Hoje todo mundo é de esquerda. O Temer conseguiu isso. Até tenho medo que ele caia e tudo volte ao estágio anterior.

ASSIM

Tudo seria tão simples se não ficassem tentando simplificar tudo.

OPUS 01

Ontem comecei a fazer uma música que me pede exasperadamente uma letra. Nada do que tenho escrito me pede uma música. Viver é uma espécie de sobrevivência na incompletude.

GPS 3 - A BATALHA FINAL

Acho louvável o esforço que as pessoas fazem, por quaisquer métodos, profissionais ou xamânicos, para encontrar o seu eu profundo. De minha parte, prefiro continuar perdido. Perdido as possibilidades se ampliam, são infinitas.

GPS 2 - A MISSÃO

Já me encontrei onde estou perdido.

HUMMMMM...

- Ru, onde está doendo?
- Não sei... dói em silêncio!

PERDAS & GANHOS

Tenho um aparelho de TV antigo na sala da minha casa. Faz mais de 2 anos, acredito, que não o ligo. Ontem, pela primeira vez, pensei em jogá-lo fora. Refleti. Esteticamente vai ficar um buraco na estante e, depois, vou perder uma referência daquilo que não estou perdendo.

CONTATOS MOLOTOV

Toca o telefone e atendo do meu jeito habitual, herdado da minha mãe:
- Pronto!
- Oi, Rubinho, aqui é a Fulana.
- Oi, Fulana, tudo bem?
- Tudo bem... quando vocês vão tocar?
- Vamos tocar na quarta-feira, lá na chácara da SABESP.
- Porra, que legal! na quarta-feira minha mãe vai levar ao psiquiatra, aí no Juqueri, pra garantir que estou bem, e aí vou ver vocês.
- ... (?) Pô, legal!
- Aquele dia que a gente se despediu eu só te dei um beijo, agora estou mandando dez...
- ... (?) Ah, legal, dez pra você também!
Puta que pariu, tem hora que eu penso que estou vivendo em um manicômio psicodélico.

PARE. OLHE. OBSERVE. PENSE!

A defesa cega de qualquer causa está alicerçada na ignorância... e a ignorância é a mãe de todas as opressões.

UM VIVER BIG BROTHER

Na absurda década de 1970 o Centro Cultural de Franco da Rocha era bem agitado. Nós, a turminha de Caieiras, como éramos chamados, passamos a frequentar assiduamente o espaço. Atividades a mil ali dentro: música, teatro, feiras, cursos e muitos encontros e discussões.
Quantas vezes chegávamos ali de manhã e só íamos embora no dia seguinte. Nada ali fazia com que a gente se ressentisse do cansaço.
Um dia, o pessoal por ali bundando, sem uma atividade específica, ficamos cantando e tocando violão, sentados no palco. Quase todos os frequentadores habituais estavam por ali, fazendo uma coisa ou outra. Entre tantas músicas, começamos a cantar Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores, do Vandré,
- Parem de tocar isso. Não podem tocar isso!!! um grito agressivo que parecia vir do quinto dos infernos, atravessou o Centro Comunitário inteiro. Silêncio geral.
Olhamos em direção ao grito e estava aquela mulher parada no meio do salão. De punhos cerrados, com os braços ao longo do corpo, nos olhando como quem queria nos arrebentar.
Era aquela mulher, não me recordo o nome, muito simpática e sorridente, que passava o dia ali com a gente, conversando, brincando e participando das atividades.
Mais tarde soubemos que era uma agente infiltrada do DOPS.

FEMUCA - FESTIVAL DE MÚSICA DE CAIEIRAS

Quando foi anunciado o festival, que aconteceria entre o final de 1979 e começo de 1980, acirrou uma cisão que já vinha ocorrendo na turma. Era uma bobagem infantilóide calcada em supostos gostos musicais. Havia uma parcela da turma que se proclamou defensora do bom gosto musical. Só ouviam Chico Buarque, Edu Lobo ou Milton Nascimento. Não havia espaço para quem gostasse de Caetano, Gil e rock, parcela onde eu e meu irmão estávamos encaixados. Era tão idiota, que acreditavam que, com o nosso gosto, seria impossível que pudéssemos gostar daquilo que eles gostavam.
Com isso cada qual resolveu fazer sua música e montar seu grupo. Musicalmente, eu e meu irmão ficamos de fora. Resolvemos não participar do tal festival, pois não havia gente pra montar uma banda.
Conversa vai e conversa vem, alguém deu o toque de um guitarrista que morava perto de casa. Não o conhecia. Era o Darci, um mecânico de automóveis, super fã da Jovem Guarda e do Roberto Carlos. Nisso ele indicou um parente dele que poderia tocar contrabaixo. Era um garoto chamado Gersinho, atual prefeito de Caieiras. Trouxeram o Luciano, que tocava bateria e trompete, complementamos com meu primo Rogério e o Bahia na percussão, o Tonho no violão e a Dora e Angela, irmã da Carmem e do Dudé, nos backing vocals. Eu no violão de 12 cordas com um pedal wha-wha, meu irmão e o Mário Barnabé nos vocais.
Tínhamos consciência das limitações do nosso grupo e optamos por uma apresentação de impacto e com um arranjo ousado. Tínhamos que apostar na criatividade. Isso para a música aprovada, pois a segunda foi censurada pelos versos: Digo agora dessa gente / Que aceita de mão beijada / A civilidade do povo / Que também é militarizada. Música minha e do meu irmão.
A música que passou era “As Mágoas do Rio Juqueri”, que fiz em parceria com o Marcos. Originalmente essa música tem uma levada meio dixieland, um jazz meio primitivo. Com essa formação da banda, viramos a música do avesso: uma percussão afro pesada, com tumbadoras, atabaque e bongôs, as meninas fazendo um backing lisérgico e alucinadamente sensual, na frente a androginia provocante do Kaká e do Mario. O lado mais rock ficava comigo, o Darci e o Gersinho. Quando descobri que o Luciano, baterista, tocava trompete, ampliei o arranjo. No meio da música parava tudo e só ficava o peso da percussão e bateria. Aí o Luciano levantava, só marcando o bumbo com o pé e fazia um super solo de trompete. Isso arrebentou.
Desde a primeira eliminatória foi um puta sucesso. Alguns detalhes ajudaram muito. Coisas que ninguém pensava. Xerocamos a letra, com uma ilustração minha, e distribuíamos para todo público, em todas as 3 eliminatórias. Todo mundo cantava junto. No lugar do tradicional 1, 2, 3 pra começar a música, as meninas gritavam JU-QUE-RI. Acabou virando grito de guerra do público, cada vez que entrávamos. Ah, antes do grito, a Dora contava uma historinha sobre o significado da palavra Juqueri, nome indígena para a planta conhecida como Dorme-Maria, comum aqui na região.
Por outro lado, a apresentação acabou chocando os conservadores, gente ligada a organização do festival e prefeitura. Aliás, um júri incompetente, formado por mulher de prefeito, filha de não sei quem e por aí afora. Só chegamos até a final por força do público que a gente garantia, concorrendo ao troféu de melhor torcida com a banda do Mário Rizardi.
A coisa aconteceu de maneira muito esquisita. Todos os concorrentes tinham que chegar ao Centro Esportivo com bastante antecedência. Cada grupo ficava instalado em uma das salas do local, não podendo sair. Eles serviam lanches, mas, nas três apresentações, quando chegava nossa vez, o lanche acabava... rs rs rs... No entanto, eles proibiam bebidas alcoólicas, mas sempre entramos com garrafas de vodka e conhaque.
Na final, estávamos na sala aguardando nossa vez, quando entra um funcionário da prefeitura e diz que um primo meu havia sido preso e estava pedindo pra gente ir até a delegacia para soltá-lo. Bom, decidimos que iríamos até lá, embora custasse nossa desclassificação. Por sorte, já na porta, prontos pra sair, passa um amigo nosso, o Davi, e conto o que estava acontecendo.
- Mentira. Acabei de encontrar seu primo agorinha ali na frente.
Não preciso dizer mais nada, né? Finalizando: ninguém do bom gosto musical chegou até a final. Acabamos ganhando, como consolo, o troféu de “Melhor Torcida”, que recusei e entreguei para o Pururuca, um garoto que organizou a meninada. O vencedor foi um menino, acho que com uns 7 anos de idade, cantando alguma coisa nos moldes do sertanejo romântico. O segundo lugar ficou com uma dupla sertaneja e o restante não me lembro.
Muitos outros detalhes acabei deixando de fora, pois a coisa iria ficar extensa. Mas é por aí.

GPS

Onde estou aqui?

MEMÓRIAS QUE VIRARAM FUMAÇA E A SUTRA DO GIRASSOL

Fomos visitar uma vila muito suspeita, em São Paulo, e voltamos de trem com um pacote, que só continha sonhos juvenis, embrulhados em jornal.
Antes de cada um ir pra sua respectiva casa, resolvemos descansar os olhos atrás do cemitério de Caieiras. Não me lembro de todos, mas, com certeza, estava o Nelson, o Emi, o Zé Antonio (Zé Body, pra não confundir com outro Zé Antonio frequentador da turma), o Rogério e eu.
Ali, entre a paz dos mortos e do verde, repentinamente surge a baratinha da polícia militar, invadindo, tal qual pesadelo, nossos sonhos.
O Nelson, talvez temendo que os policiais se atualizassem com as notícias do jornal que envolvia o pacote, lépido, jogou-o, por cima do muro, dentro do cemitério.
- Ele jogou a ponta dentro do cemitério... entra lá e procura a ponta, gritava um dos policiais, que, provavelmente, era o mais graduado.
Enquanto aquele procurava a ponta, outros dois providenciavam a blitz. Revistam daqui, revistam dali e encontram o famoso colírio Moura Brasil em um dos bolsos do Emi.
- O que é isso? Perguntou o policial.
- É remédio pra dor de dente! Respondeu o Emi, talvez o cara mais sossegado e cínico que já conheci.
- Então você vai morrer de dor de dente! Argumentou o vitorioso e valoroso soldado ao jogar fora a bisnaga de colírio.
Nesse meio tempo, o PM que procurava a ponta retornou.
- Não, ele não jogou a ponta, ele engoliu!
Fomos levados à delegacia, onde ficamos detidos algumas horas. Por sorte, uma garota que era nossa vizinha foi visitar seu namorado, um investigador, e, nos vendo lá, intercedeu a nosso favor alegando que éramos gente boa. Após um sermão, e sem tapas, fomos liberados.
Voltamos ao cemitério para resgatar as notícias. Lá estava o jornal aberto ao céu, feito um girassol, expondo todo seu conteúdo.
Ah, como não lembrar A Sutra do Girassol, do Allen Ginsberg.

UNE SAISON EN ENFER

Não há dia sem que, toda hora e qualquer instante, tenha que descer ao mais profundo e obscuro dos meus infernos.
Não há descer ao profundo e obscuro inferno sem que eu tenha que desalojar invencíveis demônios de sua residência fixa. 

Para cada despejo criar novos cadeados e novas fechaduras para impedi-los à comodidade de um lar.

Cada demônio invencível e residente que enfrento e expulso, o Medo, a Prepotência, o Preconceito, a Ignorância e a Presunção tem sua gazua.

Não há dia em que invencíveis demônios não invadam meu obscuro inferno, reclamando eterna residência.

Não há dia sem que, toda hora e qualquer instante, tenha que descer ao mais profundo e obscuro dos meus infernos.

EU: QUASE MORADOR DA DELEGACIA

Durante a reforma partidária e, logo mais próximo às eleições de 1982, eu ocupava o cargo de secretário no diretório municipal do Partido dos Trabalhadores, em Caieiras.
A gente nunca sabe ao certo como funciona o processo da inteligência da repressão, caso haja alguma. Não sei se pelo cargo, que de certa maneira tem uma importância estratégica, pois é quem está com as informações do partido; não sei se em função do presidente, cargo mais alto do diretório municipal, ser popularmente conhecido por seu espírito simpático e conciliador e, não sei se por sorteio, fui escolhido pelo delegado de polícia, de Caieiras, como bode expiatório.
Sem exagero, toda semana uma viatura parava na porta da minha casa pra me levar até a delegacia. O tal delegado queria conversar comigo. A vizinhança já achando que eu era um bandido.
Sempre me recusei a entrar na viatura. Procurava descer mais tarde e ir em companhia de alguém, pra não facilitar. E esse alguém era a, então, minha esposa, Marli, ex-presa política durante a ditadura. Embora esse caso fosse levado ao diretório, o PT de Caieiras, como um todo, nunca se manifestou ou tomou qualquer atitude, preocupados que estavam com suas campanhas para prefeito e vereadores.
Bom, voltando: a cena na delegacia era grotesca e surreal. O delegado, aquele mesmo do caso Raul Seixas, ficava um tempão, em silêncio, olhando pra minha cara. Eu, em silêncio, olhando pra cara dele. Aí ele olhava para um quadro na parede, que tinha o retrato de um soldado, e voltava a me olhar. Em silêncio. Eu olhava, em silêncio, para o quadro e depois, novamente, para o delegado. Após longo tempo nessa masturbação sem gozo, ele me perguntava:
- Sabe quem é esse?
- Não!
- É um policial morto por terroristas!
-???????? Meio que dava de ombros. Seria tão imbecil quanto se tentasse responder uma bobagem desse porte.
Isso se repetiu não sei quantas vezes. Nem sempre o retrato era o assunto, mas o terrorismo era preponderante.
Até que um dia sou chamado, desço pra delegacia com a Marli, e o delegado não está. Quem veio conversar comigo foi um capitão da polícia militar. Era um sujeito de modos delicados, simpático e que nunca andava armado. Fiquei conversando com ele, tentando descobrir as intenções do delegado.
- Na verdade, o que nós queremos é uma relação com os nomes de todos os filiados do Partido dos Trabalhadores.
- Olha, capitão, nós somos um partido legal e pra conseguir os nomes basta ir até o Cartório Eleitoral, no Fórum, em Franco da Rocha.
- Sabe como é... é muita burocracia. Você poderia facilitar pra gente...
- Me desculpe, mas não vou dar o nome de ninguém, pois quem criou essa burocracia é o Estado que o senhor defende. Se nós a enfrentamos para criar um partido, vocês também podem enfrenta-la para conseguir os nomes.
Nessa hora a Marli já estava desesperada com a minha atitude e ficava me beliscando. Mas quando me voltei para o capitão e disse que tinha mais uma coisinha a dizer, a Marli, me conhecendo bem, empalideceu.
- Sabe o que é, capitão, o presidente nacional do nosso partido está sendo processado pela Lei de Segurança Nacional e eu estou achando que vocês também querem me enquadrar. Falei com o melhor da minha ironia.
- Pelo amor de Deus... Imagina... eu jamais faria isso com você. Não se preocupe, não é essa a nossa intenção.
Faltou pouco pra gargalhar na cara do capitão. Saindo dali eu ria muito, enquanto a Marli repetia:
-Seu filho da puta, tinha que provocar, né? Você é um filho da puta!

LEMBRANÇAS ESMAECIDAS EM MEMÓRIA RAM

Lá pelo fim da década de 1980 e começo da de 1990, não me recordo o que o Paulo Maluf estava fazendo. Não sei se estava em algum cargo público, ou se era candidato, sei lá, de qualquer forma não era coisa boa.
Conversando com meu cunhado, à época, resolvi fazer um desenho. Desse desenho resolvemos fazer umas camisetas e adesivos para automóveis.
Não tenho mais o desenho, mas era uma caricatura vampiresca do Maluf, dentro de um cálice transbordando sangue. Atrás, como raios resplandecentes, os pecados e crimes do sujeito. Uma frase bem grande terminava o desenho: Pai, afasta de mim esse cálice!
Quem fez a tela e a impressão das camisetas foi o Gleiton.
Deixamos um lote grande de camisetas na antiga loja de produtos do PT, na região da Praça da Sé. Outro tanto era vendido em comícios e manifestações.
Dias depois o PT nos encomenda um segundo lote. Preparamos as camisetas e adesivos e fomos, o Edson e eu, pra lojinha do PT. Quando estávamos entrando com aqueles pacotes nas costas, a garota responsável pela loja, vem correndo em nossa direção e gritando:
- Some daqui. Corre! A polícia (não lembro se federal) invadiu a loja e apreendeu o que tinha sobrado e agora está atrás de vocês.
Fiquem na moita e não liberem esse material. Some daqui!
E vamos nós dois correndo com a pacoteira nas costas, mas deu tempo de chegar até o Vale do Anhangabaú, onde acontecia um comício do PT, e vender algumas camisetas e adesivos, por pura irresponsabilidade... rs...
No final, pra amenizar o prejuízo, um deputado arrematou as camisetas e um sindicato ficou com os adesivos.

POEMA JATO

Por mais citados que sejam, poetas nunca são punidos.

DAS RELAÇÕES DEMOCRÁTICAS

Meu amor, qual de nós dois é a maioria?

DAS RELAÇÕES HUMANAS

Seguimos trocando carícias por carências.

DAS MATILHAS

Quanto mais próxima sua ascendência for o lobo, mais saudável é o cachorro. Exceção ao homem em pele de cordeiro.

ALÔ

Em tele fonemas não há alofones!

RADICAL

No quesito alimentação ando tão natural que, se der um passo à frente, vou virar vegano... se der um passo atrás, me transformo em evangélico, o que vem dar no mesmo!