Caminhando pelo centro de Caieiras alguém me chama, em meio
a um amontoado de pessoas em um ponto de ônibus, que eu tentava atravessar na
estreita calçada.
- Ô Rubinho!
Voltei-me e lá estava o Pedrinho. Eu o chamo de Pedro.
Pedro é das pouquíssimas pessoas onde existe uma
reciprocidade no gostar. Uma alegria exuberante nos encontros, hoje, cada vez
mais raros. Entre nós nunca houve expectativas ou exigências. Apenas um Pedro e
um Rubens que se gostam.
Não sei bem onde começamos nossa amizade. Trabalhamos juntos
durante um período, mas já nos conhecíamos antes disso. Adolescentes, éramos
vizinhos, só na base do cumprimento formal.
Depois estávamos indo ver diversos shows juntos com o
Landinho e os falecidos Antonio e Minhoca. Língua de Trapo. Patrício Bisso.
SESC Pompéia. Projeto SP. Madrugadas passadas nos bailes para a terceira idade,
no salão da União Fraterna, por termos perdido a última condução. Muita
cerveja.
Pedro tem o humor em seu esqueleto. Dá-lhe um sustento, em
oposição à languidez que a vida poderia proporcionar. Proporcionou. A cerveja
deu-lhe uma liquidez solidificada. Não perde uma piada, com sua eterna camisa
de mangas curtas, desabotoadas até o umbigo e as calças jeans largas, sempre
dando a impressão que vão cair.
Sempre o conheci com barba longa que, hoje, percebi
totalmente branca. Mas o humor impecável.
- É, continuo com meu diabetes. Parei de beber e de fumar.
Minha família reza até hoje, agradecendo. E ri muito da doença.
Passamos um pouco pelas conversas e recordações geriátricas.
Doenças. Mortos. Sumidos.
Contei-lhe que meu primo, Nelson, amigo comum, costuma
passear no cemitério, um lugar ainda seguro para algumas leves ilegalidades, e
fica observando os túmulos.
- Por isso não te vejo há tanto tempo. Nossa, por isso não
te vi mais. Vai comentado a cada túmulo de pessoa conhecida que encontra, agora sabendo morta.
Atualizações necrológicas.
Pedro deu muita risada do método do meu primo.
- Realmente, somente duas coisas podem consolar a gente: uma
é visitar o cemitério e tripudiar por estarmos vivos. Outra é andar de ônibus,
onde só tem gente feia. Rimos e nos abraçamos.
Abraçados prometemo-nos pelo menos mais um encontro antes da
visita do meu primo ao cemitério.
Ei, vcs ainda têm charme para os vivos. Para os bem vivos!
ResponderExcluirObrigado pelo consolo... rs rs rs... repassarei ao Pedro.
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