Não sei precisar com exatidão,
mas entre o final da década de 1980 e o início da década de 1990, participamos
da fundação da zonal da CUT – Central Única dos Trabalhadores, em Caieiras.
Essa zonal nasceu em função de
uma sede do Sindicato dos Plásticos e Químicos, atrelado à CUT, que já
funcionava no município fazia algum tempo. Também tinha apoio do Sindicato dos
Coureiros, que tinha grande atuação em Caieiras, em razão da sede da indústria
de malas Primícia ter-se transferido de São Bernardo do Campo para cá. A sede
da CUT funcionaria dentro do prédio do sindicato dos plásticos.
Nesse período, embora já
desligado do PT – Partido dos Trabalhadores, acabei ficando, informalmente,
responsável pela parte cultural da zonal.
Acho que o primeiro atrito em que
estive envolvido foi quando convidei o Maurício Tragtenberg, com quem vinha mantendo
contato havia algum tempo, para uma palestra. Aqueles sindicalistas
tradicionais, de cartilha básica do marxismo, ficaram indignados quando
descobriram que o Tagtenberg era um
libertário, ou social-libertário, como se definia. No período em que fiquei por lá essa foi a
primeira e última palestra acontecida no local.
O cerceamento cultural,
principalmente em Caieiras, sempre foi brutal. Todo e qualquer evento estava em
mãos de grandes empresas, igreja ou candidatos a cargos públicos. Qualquer
outra manifestação, com sorte, era ignorada, caso contrário, caso de polícia. Agora
encontrava também dentro do setor que, à época, era considerado o mais avançado
do país... pelo menos no que diz respeito a reivindicações econômicas.
Tentando dar uma driblada em tudo
isso, junto a alguns amigos, resolvemos criar um cineclube de exibição. Era o
auge do videocassete. Não era qualquer um que podia comprar um aparelho, pois
era bem caro. No final nos cotizamos, acho que umas dez pessoas, e compramos o
último modelo da Sharp. Esses amigos nem todos eram do PT, alguns simpatizantes
e outros nem que sim, nem que não.
Esse cineclube de exibição
funcionaria, de forma independente, dentro da sede do sindicato dos plásticos, dando
a impressão de ser um adendo da CUT.
Assim, todo final de semana
teríamos três filmes em exibição. Um filme que teria discussão após a exibição
e os outros dois mais com o intuito de diversão, não havendo necessariamente
discussão. Os filmes eram escolhidos pelas indicações das pessoas envolvidas,
independente de ser cotista ou não.
Houve um começo em que a coisa
funcionou bem, mas não durou muito. Aí neguinho, principalmente não cotista,
começou a levar filme pornô em horário de expediente, tanto do sindicato quanto
da CUT. Dá pra imaginar um operário, ou uma operária, entrando no sindicato
atrás de informações e dá de cara com um bando de marmanjos, com déficit
sexual, assistindo filme pornô.
Bom, demos um corte nisso. Mas a
coisa não parou aí. Conforme tínhamos determinado, o videocassete ficava
guardado na sede do sindicato, então algumas pessoas passaram a leva-lo sem
autorização para suas casas. Chegava o final de semana onde faríamos as
exibições, vamos dizer, oficiais, onde está o aparelho? Ah, está na casa de não
sei quem... e corre pra ir buscar. Foi aí que a coisa começou a degringolar,
pois todo mundo se achou no direito de também ficar com o videocassete em casa.
Alguns, na malandragem, ficavam semanas com o aparelho e não havia maneira de
encontrar o sujeito para resgatar. O duro era justificar para aqueles que
cotizaram na compra do videocassete.
A presença física do Sharp foi
ficando cada vez mais rara, assim como as exibições e discussões. Após isso, um
grupo de esquerda mais “radical” foi tomando conta do espaço e do videocassete que,
em pouco tempo, desapareceu sem deixar qualquer vestígio.
Por mais que viva hoje em um
mundo digital, minha memória ainda é analógica. Claro, algumas vezes a fita
enrosca.
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