Eu tinha acabado de romper meu primeiro namoro mais longo.
Um ano e meio. Foi nesse período que ela me apareceu.
Wanda era caixa no banco onde eu ia receber meu pagamento.
Há muito tempo eu observava aquela menina morena e muito bonita. Praticamente
rezava para ser atendido por ela. Simpática e toda sorrisos, me deixava
gaguejando quando dava sorte de cair no seu caixa.
No mesmo banco trabalhava uma amiga que namorava meu grande
amigo à época. Eles estavam sempre em casa, ajudando-a nos trabalhos de seu
curso de psicanálise, ou saindo pra algum lugar.
Passado uns dias do rompimento do meu namoro, esse casal me
convida para irmos ao cinema e ela diz que vai convidar uma amiga.
Sim, esperto leitor, era ela, a Wanda. Nosso primeiro filme
foi Decameron, do Pasolini. Menina inteligente, nada introvertida e com uma boa
base cultural, coisa rara em Caieiras. Nos encontramos e saímos algumas vezes,
mas, na verdade, não desenvolvemos propriamente um namoro. Tínhamos substância,
mas faltou algo que fizesse a liga perfeita.
Fiquei sem vê-la durante um período. Quando houve um assalto
à agência bancária onde ela trabalhava. Coisa medonha, com a morte de uma
menina, gente presa no banheiro, reféns, ação inconsequente de uma polícia
despreparada e toda loucura que envolve esse tipo de violência.
Abalada, pois estava presente durante o assalto, Wanda, depois disso, nunca mais foi a mesma. Surtou total. Foi
deformando seu corpo na mesma proporção que se desestabilizava mentalmente. Essas
notícias me chegavam através da amiga comum. Como a coisa ainda pode piorar,
Wanda tornou-se uma fanática religiosa.
Mais recentemente tive notícias de que ela melhorou muito.
Conseguiu se estabilizar. Ela ainda pergunta por mim, dizendo lamentar ter me
perdido.
Eu também, não achado, mandei-lhe um beijo.
Wanda.. Como anda? O assalto ao banco, o assalto do banco, o assalto da religião... E por fim o que resta...?
ResponderExcluirResta um beijo enviado por terceiros. Wandalismo social.
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