sexta-feira, 25 de novembro de 2016

DE WANDA

Eu tinha acabado de romper meu primeiro namoro mais longo. Um ano e meio. Foi nesse período que ela me apareceu.

Wanda era caixa no banco onde eu ia receber meu pagamento. Há muito tempo eu observava aquela menina morena e muito bonita. Praticamente rezava para ser atendido por ela. Simpática e toda sorrisos, me deixava gaguejando quando dava sorte de cair no seu caixa.

No mesmo banco trabalhava uma amiga que namorava meu grande amigo à época. Eles estavam sempre em casa, ajudando-a nos trabalhos de seu curso de psicanálise, ou saindo pra algum lugar.

Passado uns dias do rompimento do meu namoro, esse casal me convida para irmos ao cinema e ela diz que vai convidar uma amiga.

Sim, esperto leitor, era ela, a Wanda. Nosso primeiro filme foi Decameron, do Pasolini. Menina inteligente, nada introvertida e com uma boa base cultural, coisa rara em Caieiras. Nos encontramos e saímos algumas vezes, mas, na verdade, não desenvolvemos propriamente um namoro. Tínhamos substância, mas faltou algo que fizesse a liga perfeita.

Fiquei sem vê-la durante um período. Quando houve um assalto à agência bancária onde ela trabalhava. Coisa medonha, com a morte de uma menina, gente presa no banheiro, reféns, ação inconsequente de uma polícia despreparada e toda loucura que envolve esse tipo de violência.

Abalada, pois estava presente durante o assalto, Wanda, depois disso, nunca mais foi a mesma. Surtou total. Foi deformando seu corpo na mesma proporção que se desestabilizava mentalmente. Essas notícias me chegavam através da amiga comum. Como a coisa ainda pode piorar, Wanda tornou-se uma fanática religiosa.

Mais recentemente tive notícias de que ela melhorou muito. Conseguiu se estabilizar. Ela ainda pergunta por mim, dizendo lamentar ter me perdido.


Eu também, não achado, mandei-lhe um beijo.

2 comentários:

  1. Wanda.. Como anda? O assalto ao banco, o assalto do banco, o assalto da religião... E por fim o que resta...?

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  2. Resta um beijo enviado por terceiros. Wandalismo social.

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