sexta-feira, 25 de novembro de 2016

ANA QUE ANINHA

Eu ainda estudava no período da tarde, no colégio Walther Weiszflog. Eu e a Aninha estudamos um ou dois anos juntos, na mesma classe, no chamado ginasial.

Hora do recreio, aula vaga ou aula matada, a gente descia pra av. dos Estudantes, em frente ao colégio, pra fumar e ficar conversando. Aninha tinha uma amiga inseparável, da qual, insistentemente, esqueço o nome. Acho que Deda. Ou Leda? Ou Eda?

Desde que a conheci sempre me chamou a atenção. Ela era diferente do padrão menininha de Caieiras. Não, não era tesão ou paixonite de adolescente, ou algo que o valha. A coisa nunca rumou por esse caminho. Era algo diferente. Era uma sensação de estar próximo a um igual. Tão jovens, era uma idade em todos nos achamos diferentes, que ninguém nos entende ou que só nós sabemos das coisas. Uma idade egoísta pra se dividir.

Eu, começando meus primeiros passos no “underground”, sentia-me menos “único” na presença da Aninha. Muito provavelmente ela nunca tenha sentido essa química que me enlevava. Minha excessiva timidez nunca permitiu dividir isso com ela, embora sempre estivéssemos conversando. Sempre simpática Ana tinha atitude. Era isso que me chamava a atenção.

Um dia o professor de português pediu que a classe escolhesse um aluno, que ficaria sentado à frente, para ser entrevistado pelos demais. Aninha foi a escolhida. Não me lembro das perguntas feitas, mas, provavelmente ficaram nas bobagens tradicionais de aborrescência. Namorado? Apaixonada? Qual sua cor preferida? Já leu o Pequeno Príncipe?

Quando chegou minha vez de perguntar, mandei um direto:

- Ana, você é a favor da legalização da maconha?

Mal deu tempo dela responder afirmativamente, o professor puto da vida acabou com a brincadeira. Uma bronca em mim por ter perguntado e uma na Ana por ter respondido. Alguns anos depois esse professor tornou-se o segundo homem no escalão do DOPS, em São Paulo, ainda durante a ditadura militar.

Depois disso só fui reencontrar a Ana por volta de 1982. Foi em um comício do PT, no bairro da Lapa, em Sampa. Eu estava com a Marli e nossa filha, Maíra, ainda de colo e meus cunhados Edson e Selma. A Ana estava com seu marido e pouco deu pra gente conversar, além dos cumprimentos.

Agora, mais recentemente, mais uma vez reencontro a Ana. Fico feliz em poder vê-la bem, carinhosa e cuidadosa com os amigos. Sempre doce, é uma amizade que quero preservar. Se já não temos aquela energia e ousadia da juventude, mantemos um respeito profundo pelo humano.


Com mais idade, menos tímido, talvez um dia lhe entregue essa confissão. 

2 comentários:

  1. Acho muito generosa a ideia de participar com a Ana um reflexo que revela ela tão bonita. Se vale a opinião: Reneta isso pra ela!

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