As redes sociais são um fenômeno incontestável de
comunicação entre pessoas. Verdades, mentiras, superficialidades e intimidades
rapidamente se espalham, em uma velocidade alucinante jamais vista na história
da informação.
Esse excesso de informações, obviamente, desvia a atenção do
usuário de questões relevantes que poderiam lhe trazer algum interesse. Podemos
comparar a um civil, em tempos de guerra, perdido em meio a um bombardeio das
forças inimigas. Pra onde correr? A quem ocorrer?
O esforço para peneirar tudo isso é por demais desgastante.
Se buscamos informações, sem a necessidade de atravessadores da
superficialidade, as fontes confiáveis são muitas e basicamente com um click
estamos lá. Mas, claro, quem ficará sabendo que você está sabendo? Faz-se
necessário o compartilhamento daquilo que você sabe. Um like é um prêmio.
Uma das justificativas dos usuários convictos das redes
sociais é o relacionamento com amigos, conhecidos, o “encontrar” pessoas que
não viam desde os tempos da escola e atualizar, dessa maneira, décadas de vida
não compartilhada. E sua existência é confirmada pelo número de “amigos”. Ali,
praticamente ninguém se sente vivo sem que esses olhos pousem sobre sua
exibição.
Claro, isso é bacana. Reencontrar uma pessoa que teve uma
importância em sua vida e sabê-la bem é reconfortante. No entanto, a comodidade
das relações virtuais manterão essas pessoas recém-reencontradas tão distantes
quanto as décadas perdidas. Algumas vezes, de forma rara, marcam-se encontros,
que raramente irão repetir-se.
No geral, esperam reencontrar, no amigo (a), a mesma pessoa
que foi 10, 20 ou 30 anos atrás. Não conseguem perceber sua própria mudança e a
ideia de uma adolescência ou juventude eterna determinam as expectativas, seja
de prazer ou decepção. Essas experiências “carnais”, ali cara-a-cara,
logicamente, expõem a todos, onde reside o temor, o medo que um computador
mascara.
Durante muito tempo estive envolvido nessa virtualidade das
redes sociais. Nelas reencontrei alguns poucos amigos que ainda assim os
considero. A grande parte não considero mais como tal. Também fiz algumas
poucas novas amizades. Quando utilizo algum, alguns ou poucos são, de fato, na
proporção mínima. O restante é superficialidade.
Muitas pessoas, por uma razão ou outra (nunca sabemos o que
passa pela cabeça delas), acabaram por me supervalorizar. Talvez por acreditar
que me ter como contato lhes conferia alguma importância, procuravam marcar presença
nas postagens com likes, alguns raros comentários e compartilhamentos.
Tenho consciência que sempre mantive uma postura
diferenciada em minhas postagens. Procurei agir com honestidade, sem máscaras e
sem envolvimento íntimo quando assim o exigia. Fui muito crítico e claro em
meus propósitos. Não fiz média ou proselitismo gratuito com ninguém. Sempre
deixei muito claro de quem, ou daquilo, que gostava e não fechei os olhos para
questões agressivas, preconceitos ou conservadorismo. Recebiam na mesma moeda.
Fosse quem fosse.
Sim, talvez isso fosse um ideal entronizado no subconsciente
dessas almas no pastoreio, além dessa absurda mitificação em torno do poeta, do
vanguardeiro ou aquilo que eles acreditam ser um intelectual. Entendo ser por
aí o caminho de muitos dos meus poucos contatos nessas redes sociais.
Recentemente, quando me decidi por sair desse enredamento, comuniquei a todos e deixei ali outros meios pelos quais poderíamos
manter contato. Físico, preferencialmente. Claro, entre as pessoas de quem
gosto, algumas vivem muito distantes, inclusive em outros países. Fizeram certo
estardalhaço pedindo para que eu revisse minha decisão, que não saísse e etc.
Reafirmei os tantos processos pelos quais continuaríamos mantendo contato, seja
por e-mail, por carta, meu blog, por telefone e, repito, ali ao vivo.
O resultado disso é que duas pessoas me ligaram, duas me
mandaram um e-mail e duas me contataram pelo blog, isso em um universo de
aproximadamente 150 “amigos”. Para muitas pessoas isso pode parecer frustrante,
mas para quem, como eu, sempre foi consciente e crítico dessas relações,
algumas supostamente profundas, há certo sentimento de, confesso, prepotência,
diante da confirmação.
Também há um alívio em tirar o peso, em ser
referência, das costas.
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