terça-feira, 15 de novembro de 2016

BLACK MIRROR

As redes sociais são um fenômeno incontestável de comunicação entre pessoas. Verdades, mentiras, superficialidades e intimidades rapidamente se espalham, em uma velocidade alucinante jamais vista na história da informação.

Esse excesso de informações, obviamente, desvia a atenção do usuário de questões relevantes que poderiam lhe trazer algum interesse. Podemos comparar a um civil, em tempos de guerra, perdido em meio a um bombardeio das forças inimigas. Pra onde correr? A quem ocorrer?

O esforço para peneirar tudo isso é por demais desgastante. Se buscamos informações, sem a necessidade de atravessadores da superficialidade, as fontes confiáveis são muitas e basicamente com um click estamos lá. Mas, claro, quem ficará sabendo que você está sabendo? Faz-se necessário o compartilhamento daquilo que você sabe. Um like é um prêmio.

Uma das justificativas dos usuários convictos das redes sociais é o relacionamento com amigos, conhecidos, o “encontrar” pessoas que não viam desde os tempos da escola e atualizar, dessa maneira, décadas de vida não compartilhada. E sua existência é confirmada pelo número de “amigos”. Ali, praticamente ninguém se sente vivo sem que esses olhos pousem sobre sua exibição.

Claro, isso é bacana. Reencontrar uma pessoa que teve uma importância em sua vida e sabê-la bem é reconfortante. No entanto, a comodidade das relações virtuais manterão essas pessoas recém-reencontradas tão distantes quanto as décadas perdidas. Algumas vezes, de forma rara, marcam-se encontros, que raramente irão repetir-se.

No geral, esperam reencontrar, no amigo (a), a mesma pessoa que foi 10, 20 ou 30 anos atrás. Não conseguem perceber sua própria mudança e a ideia de uma adolescência ou juventude eterna determinam as expectativas, seja de prazer ou decepção. Essas experiências “carnais”, ali cara-a-cara, logicamente, expõem a todos, onde reside o temor, o medo que um computador mascara.

Durante muito tempo estive envolvido nessa virtualidade das redes sociais. Nelas reencontrei alguns poucos amigos que ainda assim os considero. A grande parte não considero mais como tal. Também fiz algumas poucas novas amizades. Quando utilizo algum, alguns ou poucos são, de fato, na proporção mínima. O restante é superficialidade.

Muitas pessoas, por uma razão ou outra (nunca sabemos o que passa pela cabeça delas), acabaram por me supervalorizar. Talvez por acreditar que me ter como contato lhes conferia alguma importância, procuravam marcar presença nas postagens com likes, alguns raros comentários e compartilhamentos.

Tenho consciência que sempre mantive uma postura diferenciada em minhas postagens. Procurei agir com honestidade, sem máscaras e sem envolvimento íntimo quando assim o exigia. Fui muito crítico e claro em meus propósitos. Não fiz média ou proselitismo gratuito com ninguém. Sempre deixei muito claro de quem, ou daquilo, que gostava e não fechei os olhos para questões agressivas, preconceitos ou conservadorismo. Recebiam na mesma moeda. Fosse quem fosse.

Sim, talvez isso fosse um ideal entronizado no subconsciente dessas almas no pastoreio, além dessa absurda mitificação em torno do poeta, do vanguardeiro ou aquilo que eles acreditam ser um intelectual. Entendo ser por aí o caminho de muitos dos meus poucos contatos nessas redes sociais.

Recentemente, quando me decidi por sair desse enredamento, comuniquei a todos e deixei ali outros meios pelos quais poderíamos manter contato. Físico, preferencialmente. Claro, entre as pessoas de quem gosto, algumas vivem muito distantes, inclusive em outros países. Fizeram certo estardalhaço pedindo para que eu revisse minha decisão, que não saísse e etc. Reafirmei os tantos processos pelos quais continuaríamos mantendo contato, seja por e-mail, por carta, meu blog, por telefone e, repito, ali ao vivo.

O resultado disso é que duas pessoas me ligaram, duas me mandaram um e-mail e duas me contataram pelo blog, isso em um universo de aproximadamente 150 “amigos”. Para muitas pessoas isso pode parecer frustrante, mas para quem, como eu, sempre foi consciente e crítico dessas relações, algumas supostamente profundas, há certo sentimento de, confesso, prepotência, diante da confirmação.

Também há um alívio em tirar o peso, em ser referência, das costas.

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