quarta-feira, 30 de novembro de 2016

JOHN LENNON EM NOVA YORK - VALE LER

O livro John Lennon em Nova York, de James A. Mitchell, talvez não agrade tanto aqueles fãs mais tradicionais dos Beatles, pois compreende um período em que a banda estava recentemente separada. Embora a relação entre John e os outros membros, pós-separação, seja pincelada aqui e ali, não é o foco principal do livro.

O objetivo do livro é traçar um painel no início da década de 1970, quando John Lennon envolveu-se com os grupos radicais de esquerda norte-americanos. Ali desfilam personagens radicais, desde os anarco-histriônicos Jerry Rubin e Abbie Hoffman, do Partido Internacional da Juventude (Yppies) e também envolvidos no processo conhecido como Os Sete de Chicago, passando por John Sinclair, líder do grupo Panteras Brancas (grupo antirracista de apoio aos Panteras Negras), até movimentos feminista ou pacifista e os Panteras Negras. Grupos e pessoas que investiram alto nesse comprometimento de Lennon com suas causas e, o objetivo maior, detonar a campanha presidencial de Nixon, atraindo o voto da juventude.

Interessante também o envolvimento e a relação de John com a Elephant’s Memory Band, uma banda de rua, ligada ao underground e aos radicais nova-iorquinos, da qual Carly Simon já havia sido vocalista. Estruturavam-se sobre uma base sólida de jazz, blues e rock e tinham a responsabilidade de ser a nova banda de um dos heróis deles. Os depoimentos dos membros da Elephant’s sobre essa relação, sem estrelismos, com Lennon confirma o respeito que todos os músicos, seja Keith Richards, David Bowie, Elton John ou Joe Strummer, tem por ele, como músico ou pessoa.

A consequência dessa atividade político-musical foi um longo processo de deportação, que John e Yoko enfrentaram, baseados em uma prisão que Lennon teve por porte de maconha. O caso virou uma questão pessoal do diretor do FBI, J. Edgar Hoover e do presidente Richard Nixon, que em sua paranoia via nesse movimento uma grande ameaça à sua reeleição.

Uma das grandes surpresas do livro é quando Elvis Presley, com sua doença por armas e distintivos policiais, procura o presidente Nixon e se oferece como espião, pois era bem relacionado no meio artístico, para entregar os comunistas e os drogados. Chegou a afirmar ao mandatário que os Beatles eram uma arma comunista infiltrada para destruir os alicerces da democracia. Nixon, constrangido, não levou a sério esse encontro e deu um falso distintivo policial ao rei do rock.


O livro é totalmente baseado em entrevistas com os envolvidos e documentos, por exemplo, do FBI, hoje abertos à consulta. Algumas histórias são tão ridículas que lembram muito a polícia brasileira. A capa do processo contra Lennon tinha uma ilustração, pois os agentes do FBI alegavam que não conseguiam uma foto dele. Falavam de um dos homens mais fotografados do século XX. Ou mais tarde, quando os agentes federais receberam uma foto, supostamente de Lennon, para identificá-lo em meio a uma manifestação. A foto era do ativista e músico de rua David Peel.

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