O livro John Lennon em Nova York, de James A. Mitchell,
talvez não agrade tanto aqueles fãs mais tradicionais dos Beatles, pois
compreende um período em que a banda estava recentemente separada. Embora a
relação entre John e os outros membros, pós-separação, seja pincelada aqui e
ali, não é o foco principal do livro.
O objetivo do livro é traçar um painel no início da década
de 1970, quando John Lennon envolveu-se com os grupos radicais de esquerda
norte-americanos. Ali desfilam personagens radicais, desde os anarco-histriônicos
Jerry Rubin e Abbie Hoffman, do Partido Internacional da Juventude (Yppies) e
também envolvidos no processo conhecido como Os Sete de Chicago, passando por
John Sinclair, líder do grupo Panteras Brancas (grupo antirracista de apoio aos
Panteras Negras), até movimentos feminista ou pacifista e os Panteras Negras.
Grupos e pessoas que investiram alto nesse comprometimento de Lennon com suas
causas e, o objetivo maior, detonar a campanha presidencial de Nixon, atraindo
o voto da juventude.
Interessante também o envolvimento e a relação de John com a
Elephant’s Memory Band, uma banda de rua, ligada ao underground e aos radicais nova-iorquinos,
da qual Carly Simon já havia sido vocalista. Estruturavam-se sobre uma base
sólida de jazz, blues e rock e tinham a responsabilidade de ser a nova banda de
um dos heróis deles. Os depoimentos dos membros da Elephant’s sobre essa
relação, sem estrelismos, com Lennon confirma o respeito que todos os músicos,
seja Keith Richards, David Bowie, Elton John ou Joe Strummer, tem por ele, como
músico ou pessoa.
A consequência dessa atividade político-musical foi um longo
processo de deportação, que John e Yoko enfrentaram, baseados em uma prisão que
Lennon teve por porte de maconha. O caso virou uma questão pessoal do diretor
do FBI, J. Edgar Hoover e do presidente Richard Nixon, que em sua paranoia via
nesse movimento uma grande ameaça à sua reeleição.
Uma das grandes surpresas do livro é quando Elvis Presley,
com sua doença por armas e distintivos policiais, procura o presidente Nixon e
se oferece como espião, pois era bem relacionado no meio artístico, para
entregar os comunistas e os drogados. Chegou a afirmar ao mandatário que os
Beatles eram uma arma comunista infiltrada para destruir os alicerces da
democracia. Nixon, constrangido, não levou a sério esse encontro e deu um falso
distintivo policial ao rei do rock.
O livro é totalmente baseado em entrevistas com os
envolvidos e documentos, por exemplo, do FBI, hoje abertos à consulta. Algumas
histórias são tão ridículas que lembram muito a polícia brasileira. A capa do
processo contra Lennon tinha uma ilustração, pois os agentes do FBI alegavam
que não conseguiam uma foto dele. Falavam de um dos homens mais fotografados do
século XX. Ou mais tarde, quando os agentes federais receberam uma foto, supostamente de Lennon, para identificá-lo em meio a uma manifestação. A foto era do ativista e músico de rua David Peel.
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