sexta-feira, 25 de novembro de 2016

PEDRO, ONDE CÊ VAI EU TAMBÉM VÔ!

Caminhando pelo centro de Caieiras alguém me chama, em meio a um amontoado de pessoas em um ponto de ônibus, que eu tentava atravessar na estreita calçada.

- Ô Rubinho!

Voltei-me e lá estava o Pedrinho. Eu o chamo de Pedro.

Pedro é das pouquíssimas pessoas onde existe uma reciprocidade no gostar. Uma alegria exuberante nos encontros, hoje, cada vez mais raros. Entre nós nunca houve expectativas ou exigências. Apenas um Pedro e um Rubens que se gostam.

Não sei bem onde começamos nossa amizade. Trabalhamos juntos durante um período, mas já nos conhecíamos antes disso. Adolescentes, éramos vizinhos, só na base do cumprimento formal.

Depois estávamos indo ver diversos shows juntos com o Landinho e os falecidos Antonio e Minhoca. Língua de Trapo. Patrício Bisso. SESC Pompéia. Projeto SP. Madrugadas passadas nos bailes para a terceira idade, no salão da União Fraterna, por termos perdido a última condução. Muita cerveja.

Pedro tem o humor em seu esqueleto. Dá-lhe um sustento, em oposição à languidez que a vida poderia proporcionar. Proporcionou. A cerveja deu-lhe uma liquidez solidificada. Não perde uma piada, com sua eterna camisa de mangas curtas, desabotoadas até o umbigo e as calças jeans largas, sempre dando a impressão que vão cair.

Sempre o conheci com barba longa que, hoje, percebi totalmente branca. Mas o humor impecável.

- É, continuo com meu diabetes. Parei de beber e de fumar. Minha família reza até hoje, agradecendo. E ri muito da doença.

Passamos um pouco pelas conversas e recordações geriátricas. Doenças. Mortos. Sumidos.

Contei-lhe que meu primo, Nelson, amigo comum, costuma passear no cemitério, um lugar ainda seguro para algumas leves ilegalidades, e fica observando os túmulos.

- Por isso não te vejo há tanto tempo. Nossa, por isso não te vi mais. Vai comentado a cada túmulo de pessoa conhecida que encontra, agora sabendo morta. Atualizações necrológicas.

Pedro deu muita risada do método do meu primo.

- Realmente, somente duas coisas podem consolar a gente: uma é visitar o cemitério e tripudiar por estarmos vivos. Outra é andar de ônibus, onde só tem gente feia. Rimos e nos abraçamos.


Abraçados prometemo-nos pelo menos mais um encontro antes da visita do meu primo ao cemitério.

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