quarta-feira, 30 de novembro de 2016

PIA CHEIA

As pessoas costumam a se aferrar aos costumes, crenças e tradições como àquela velha xícara, irremovível, que a falecida mãe usava, guardada no depósito de memórias do armário de novas louças. Uma forma de resistência aos novos pratos, pires, copos e xícaras legados a uma provisória hospedagem nas prateleiras do passado.

Caetano Veloso, já em 1967, questionava: Que juventude é essa? Vocês são a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem!

Essa farta indignação contra o poder estabelecido, por métodos questionáveis ou não, proclamada diariamente pelos ativistas virtuais, se ampara em velhas tradições esquerdóides, valores tão superados quanto aqueles em que se sustentam os conservadores.

Dentro dos valores tradicionais, tanto à direita quanto à esquerda, os conservadores venceram e continuarão a vencer. Nesse plano, onde são insuperáveis, transformaram toda e qualquer manifestação contra em ridículas, cansativas e desacreditadas arengas. Conseguiram que grupos ou partidos, ditos de esquerda, entrassem em seu jogo político e se igualassem por baixo. E sobre essas bases se sustentam essas indignações.

O poeta Oswald de Andrade dizia que devíamos olhar o novo com novos olhos. Mas a poeira assentada sob as velhas louças do passado turvam o olhar, no máximo condescendente, aos novos pratos.


E vamos a cada novo dia almoçando, em velhas louças, o resto do jantar de ontem. 

3 comentários:

  1. engraçado, eu já vinha degustar um texto sobre rubens lavando louças... digo, bem menos universal e muito mais cozinheiro!

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    1. Drigão, por incrível que pareça, esse é um texto que está na mira. O Rubens do tanque e da pia. rs rs...

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