quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A ESCALADA

Quando chegamos o tempo estava fechado. Mal conseguíamos distinguir a montanha entre a enorme expectativa e a frustração que nos abateu.


Montamos acampamento e esperamos. Éramos 15, 20... talvez mais. Entre eles alguns amigos antigos, outros foram se somando na execução do projeto inicial da escalada, alguns poucos foram surgindo durante o percurso e se juntaram ao grupo.

Foram dias de espera. A montanha nos desafiava. Nos tomou os gestos, as palavras, os olhares, os desejos e os pensamentos, até o dia em que se permitiu nos dar uma chance.

O dia amanheceu claro, com o sol despontando no horizonte. Decidimos que chegara a hora.

Com a disciplina conquistada em anos de treinamentos e simulações, fomos nos armando dos equipamentos. Já não nos falávamos, cada um sabia exatamente o que fazer.

Começamos a escalada. Subimos durante muito tempo, embora olhando para baixo mal houvéssemos saído da sua base. Não sei com certeza se foram dias, semanas ou meses, mas o chão parecia sempre estar mais próximo que seu cume, mas ninguém parecia perceber ou se importar com isso.

Ao levantar-me, numa certa manhã, após o descanso noturno, entre sonado e distraído notei alguns arbustos, flores e pequenos insetos que teimavam em ser vida num lugar aparentemente árido e inóspito.

Parei durante algum tempo observando essa pequena descoberta, em meio a tamanha imensidão assustadora.

Quando me voltei para meus companheiros, eles já não estavam lá. Olhei para cima e já não os via. Gritei por seus nomes e já não me ouviam. Apenas um vazio que me preenchia e um silêncio ensurdecedor que me esmagava.

Me instalei em uma das cavernas da montanha e ali vivi durante anos entre insetos rastejantes e voadores. Ali vivi entre um dia e uma noite me preparando para fazer o caminho da volta.

Quando se fez claro, decidi que o dia chegara.


Em mim, o inatingível é o que está diante dos meus olhos, ao alcance das minhas mãos. 

A ideia de um deus nunca, em momento algum, me proporcionou ir tão longe.

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