Quando chegamos o tempo estava fechado. Mal conseguíamos distinguir a montanha entre a enorme expectativa e a frustração que nos abateu.
Montamos
acampamento e esperamos. Éramos 15, 20... talvez mais. Entre eles alguns amigos
antigos, outros foram se somando na execução do projeto inicial da escalada, alguns
poucos foram surgindo durante o percurso e se juntaram ao grupo.
Foram dias de
espera. A montanha nos desafiava. Nos tomou os gestos, as palavras, os olhares,
os desejos e os pensamentos, até o dia em que se permitiu nos dar uma chance.
O dia amanheceu
claro, com o sol despontando no horizonte. Decidimos que chegara a hora.
Com a disciplina
conquistada em anos de treinamentos e simulações, fomos nos armando dos
equipamentos. Já não nos falávamos, cada um sabia exatamente o que fazer.
Começamos a
escalada. Subimos durante muito tempo, embora olhando para baixo mal houvéssemos
saído da sua base. Não sei com certeza se foram dias, semanas ou meses, mas o
chão parecia sempre estar mais próximo que seu cume, mas ninguém parecia
perceber ou se importar com isso.
Ao levantar-me,
numa certa manhã, após o descanso noturno, entre sonado e distraído notei
alguns arbustos, flores e pequenos insetos que teimavam em ser vida num lugar
aparentemente árido e inóspito.
Parei durante algum
tempo observando essa pequena descoberta, em meio a tamanha imensidão
assustadora.
Quando me voltei
para meus companheiros, eles já não estavam lá. Olhei para cima e já não os
via. Gritei por seus nomes e já não me ouviam. Apenas um vazio que me preenchia
e um silêncio ensurdecedor que me esmagava.
Me instalei em uma
das cavernas da montanha e ali vivi durante anos entre insetos rastejantes e
voadores. Ali vivi entre um dia e uma noite me preparando para fazer o caminho
da volta.
Quando se fez
claro, decidi que o dia chegara.
Em mim, o inatingível
é o que está diante dos meus olhos, ao alcance das minhas mãos.
A ideia de um
deus nunca, em momento algum, me proporcionou ir tão longe.
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