quinta-feira, 13 de outubro de 2016

DE BRUXAS E GUERREIROS

Quando a cigana, na verdade uma princesa cigana, um tanto espantada e enfática, disse que ele era um homem perigoso, apenas sorriu.

- Perigoso? Como assim? Perguntou sem dissimular que não levava aquelas palavras muito a sério.

Ela, em uma estranha combinação, além de cigana, era bruxa assumida e psicanalista. Trabalhava para o estado avaliando a sanidade, ou não, de criminosos brutais. Sua casa, aconchegante, despojada de muitos móveis, era uma mistura de fantasia e casa da avó. Uma vassoura de gravetos ficava encostada ao lado da porta de entrada.

- Sim, perigoso! Reafirmou, assumindo uma postura mais humorada diante da reação dele. Você é um guerreiro e, embora não seja um mago, domina a arte das magias. Muito perigoso! Riu-se pegando delicadamente no braço dele, enquanto caminhavam pela praça em reforma.

Ele se deixou levar por ela em direção à estação ferroviária e sentaram-se na escada da entrada. A conversa, já mais distraída, girava em torno de assuntos diversos. Haviam se conhecido pela internet, encontraram-se pessoalmente e tornaram-se bons amigos.

- Eu adoro lobos, disse ela. Tenho certeza que se ficar diante de um, ele não vai me atacar.

Ele, coincidentemente, também amante profundo de lobos, seus animais preferidos, disse que sentia essa mesma relação amistosa entre ele e esses animais.

- Eu sei! Afirmou a bruxa cigana, olhando seriamente pra ele.

Aproximando-se do momento dele embarcar de volta para a casa, ela acercou-se mais junto e disse, com gravidade:

- Menino, você encanta, enfeitiça, por isso é perigoso, mas também liberta. Portanto, ninguém, nada, será seu. Você é guerreiro e luta para e não por alguém. Em um guerreiro a entrega é só na luta. É um ganhar e perder constantes. Seus olhos sempre estarão nos próximos passos. Lobo solitário.


Pensando nessas palavras, sentou-se sozinho em um banco do vagão, praticamente vazio, sem que qualquer pessoa lhe prestasse atenção em especial. O apito do trem uivava para a lua.

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