Quando a cigana, na verdade uma princesa cigana, um tanto
espantada e enfática, disse que ele era um homem perigoso, apenas sorriu.
- Perigoso? Como assim? Perguntou sem dissimular que não
levava aquelas palavras muito a sério.
Ela, em uma estranha combinação, além de cigana, era
bruxa assumida e psicanalista. Trabalhava para o estado avaliando a sanidade,
ou não, de criminosos brutais. Sua casa, aconchegante, despojada de muitos móveis,
era uma mistura de fantasia e casa da avó. Uma vassoura de gravetos ficava
encostada ao lado da porta de entrada.
- Sim, perigoso! Reafirmou, assumindo uma postura mais
humorada diante da reação dele. Você é um guerreiro e, embora não seja um mago,
domina a arte das magias. Muito perigoso! Riu-se pegando delicadamente no braço
dele, enquanto caminhavam pela praça em reforma.
Ele se deixou levar por ela em direção à estação
ferroviária e sentaram-se na escada da entrada. A conversa, já mais distraída,
girava em torno de assuntos diversos. Haviam se conhecido pela internet, encontraram-se
pessoalmente e tornaram-se bons amigos.
- Eu adoro lobos, disse ela. Tenho certeza que se ficar
diante de um, ele não vai me atacar.
Ele, coincidentemente, também amante profundo de lobos,
seus animais preferidos, disse que sentia essa mesma relação amistosa entre ele
e esses animais.
- Eu sei! Afirmou a bruxa cigana, olhando seriamente pra
ele.
Aproximando-se do momento dele embarcar de volta para a
casa, ela acercou-se mais junto e disse, com gravidade:
- Menino, você encanta, enfeitiça, por isso é perigoso,
mas também liberta. Portanto, ninguém, nada, será seu. Você é guerreiro e luta
para e não por alguém. Em um guerreiro a entrega é só na luta. É um ganhar e
perder constantes. Seus olhos sempre estarão nos próximos passos. Lobo
solitário.
Pensando nessas palavras, sentou-se sozinho em um banco
do vagão, praticamente vazio, sem que qualquer pessoa lhe prestasse atenção em especial. O apito do trem uivava para a lua.
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