Tereza morava com a família em um quase casebre enfiado no
meio do mato, na periferia da cidade de Olinda. Fui ali uma ou duas vezes. Depois que
chegamos a Recife, Tereza praticamente não saía de nosso apartamento.
Um dia ela começa a nos falar sobre uma tal de Árvore de
Jurema e ficou insistindo para nos levar até lá. Onde a memória me permite
distinguir, ficava no caminho do município de Paulista. Resolvemos ir. Eu, meu
irmão, Rogério, Nelson e Mário.
Atravessamos uma mata e chegamos a um descampado com um
córrego de águas cristalinas e seixos lindíssimos. Cruzamos o córrego. Tereza
disse que, antes da Árvore de Jurema, nos levaria para conhecer o padre Cícero.
Olhamo-nos, já estranhando a situação.
Padre Cícero era uma árvore frondosa, muito larga. Haviam
lascado uma grande parte dela e pintado a figura do líder religioso do nordeste,
com o tamanho aproximado de uma criança de 10 anos. A parte esquisita da
história ficava por conta das inumeráveis perfurações à bala na cabeça, mãos
e coração da pintura. Eram tantos tiros que essas partes do corpo haviam
desaparecido. Tereza nos garantiu que durante a noite podia-se ouvir o barulho
dos disparos, mas ninguém sabia quem era o responsável.
Seguimos adiante, até onde a mata se fechava completamente. Não
havia qualquer sinal de trilha, nada que indicasse que pessoas penetrassem
naquela muralha. Adentramos naquele emaranhado de árvores, mato, galhos e
cipós, liderados pela Tereza. Finalmente chegamos à Árvore de Jurema.
Era um descampado, em forma de círculo, com uns 20 metros de
diâmetro, no meio da mata. O entorno era mata fechada, sem qualquer sinal de que
algum humano tivesse chegado ali. Ao centro, a Árvore de Jurema. Algo parecido
com o cacaueiro. Sem um tronco aparente e os galhos brotando em diversos pontos
do círculo. O chão desse círculo, sem qualquer outra planta, estava totalmente
coberto de tocos de velas pretas e vermelhas. Não era possível ver o chão sob
aquela espécie de asfalto rubro negro. Tereza também nos garantiu que
ninguém sabia nada sobre os possíveis frequentadores daquele local, nem como
sabia da sua existência.
Por mais cético que possamos ser não há como não sentir um
frio percorrendo a espinha. Em silêncio saímos rapidamente do local.
Na volta resolvemos parar no córrego de águas límpidas e nos
agachamos para pegar alguns seixos. Por alguma razão olhamos para trás, de onde
tínhamos vindo. Ali, uns 10 metros da gente, um sujeito enorme, que lembrava
muito o cantor e compositor Dominguinhos, com uma espingarda, ou rifle,
apontando pra nossas costas. Não disse uma palavra.
Levantamo-nos muito lentamente e lentamente fomos nos
afastando. Ele imóvel, apontando a arma em nossa direção. Assim, de forma muito
lenta saímos do seu campo de visão e, claro, do alcance de um possível tiro.
Nunca comentamos, entre nós, sobre essa experiência. Acho
que todos vivenciaram algo parecido com o que eu vivenciei: a possibilidade de
uma morte onde ninguém jamais saberia que estávamos mortos.
Nunca indaguei a Tereza pra entender o que ela representava
naquilo tudo. Quem era aquele homem armado, tão próximo da gente e não
percebemos sua presença?
Estando sozinho o efeito da maconha até poderia justificar,
mas em grupo, só alucinação coletiva.
Partindo atrás da primeira parte
ResponderExcluir