quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

PROTOCOLOS EXISTENCIAIS Nº 26

Chega! Basta de expor a nudez da minha indignação. Não quero mais que as vísceras da minha felicidade sejam revolvidas em açougues públicos. Que finde a necropsia da minha alma. Não mais exumarão o cadáver dos meus fracassos.

Eu sou o fato. Regalem-se com os restos.

Não mais me oferecerei em holocausto para famélicos da sordidez. Não mais norte. Não mais mote. Basta de penhor genético. Desassociar-me dos eventos. Tempo e espaço. Manter o caos recalcitrante cagando para as normas mesquinhas .

Eu sou a foto. Regalem-se com os rostos.

Chega! Basta de fartura. Basta de cultura. Basta de ruptura. Quero apenas a rua entre nuvens e asfalto. Quero a rua sem séquitos de sexos embotados na minha poesia. Não mais quero suas fantasias.

Eu sou o farto. Regalem-se com os ritos.

Chega! Basta de hipocrisia saudável. Não quero mais a salutar felicidade de mãos que nunca se apertam. Retiro um a um os parasitas da minha franqueza: franquia de exultação. Não mais assinatura em contratos invisíveis.


Eu sou o reles. Regalem-se com os fardos. 

2 comentários:

  1. A diferença de ver para ter ouvido é reparar a inversão no fim, em que ele, antes "f" - fato, foto, farto (menos "fardo") - torna-se "r" em "reles" relacionada com restos, rostos, ritos. Uma quase paronímia que acrescenta algo musical.

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