segunda-feira, 27 de março de 2017

MEMÓRIAS QUE VIRARAM FUMAÇA E A SUTRA DO GIRASSOL

Fomos visitar uma vila muito suspeita, em São Paulo, e voltamos de trem com um pacote, que só continha sonhos juvenis, embrulhados em jornal.
Antes de cada um ir pra sua respectiva casa, resolvemos descansar os olhos atrás do cemitério de Caieiras. Não me lembro de todos, mas, com certeza, estava o Nelson, o Emi, o Zé Antonio (Zé Body, pra não confundir com outro Zé Antonio frequentador da turma), o Rogério e eu.
Ali, entre a paz dos mortos e do verde, repentinamente surge a baratinha da polícia militar, invadindo, tal qual pesadelo, nossos sonhos.
O Nelson, talvez temendo que os policiais se atualizassem com as notícias do jornal que envolvia o pacote, lépido, jogou-o, por cima do muro, dentro do cemitério.
- Ele jogou a ponta dentro do cemitério... entra lá e procura a ponta, gritava um dos policiais, que, provavelmente, era o mais graduado.
Enquanto aquele procurava a ponta, outros dois providenciavam a blitz. Revistam daqui, revistam dali e encontram o famoso colírio Moura Brasil em um dos bolsos do Emi.
- O que é isso? Perguntou o policial.
- É remédio pra dor de dente! Respondeu o Emi, talvez o cara mais sossegado e cínico que já conheci.
- Então você vai morrer de dor de dente! Argumentou o vitorioso e valoroso soldado ao jogar fora a bisnaga de colírio.
Nesse meio tempo, o PM que procurava a ponta retornou.
- Não, ele não jogou a ponta, ele engoliu!
Fomos levados à delegacia, onde ficamos detidos algumas horas. Por sorte, uma garota que era nossa vizinha foi visitar seu namorado, um investigador, e, nos vendo lá, intercedeu a nosso favor alegando que éramos gente boa. Após um sermão, e sem tapas, fomos liberados.
Voltamos ao cemitério para resgatar as notícias. Lá estava o jornal aberto ao céu, feito um girassol, expondo todo seu conteúdo.
Ah, como não lembrar A Sutra do Girassol, do Allen Ginsberg.

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